domingo, 16 de abril de 2017

Tipologia Textual - A Descrição

Tipologia Textual” - Descritivo ou Descrição.
 
A descrição, muitas vezes não é tão levada a sério por parecer simples e fácil. Mas, sabemos que para uma contextualização de um tema, uma boa descrição de um cenário, ou até mesmo uma boa descrição dos personagens dentro do texto narrativo pode cativar o leitor ou fazê-lo desistir de ler determinado texto.
A descrição está presente em outros tipos de texto, pois é utilizada para auxiliar na formação de uma ideia, na composição de um cenário, na construção de um personagem, na compreensão de um conceito, na visualização de qualquer característica, etc. Saber quando usar a descrição, fazendo um bom uso dela é algo que qualifica um escritor e enriquece um texto de qualquer gênero textual.

Leia o trecho descritivo de Guimarães Rosa:
leer
“Sua casa ficava para trás da Serra do Mim, quase no meio de um brejo de água limpa, lugar chamado o Temor-de-Deus. O pai, pequeno sitiante, lidava com vacas e arroz; a Mãe, urucuiana, nunca tirava o terço da mão, mesmo quando matando galinhas ou passando descompostura em alguém. E ela, menininha, por nome Maria, Nhinhinha dita, nascera já muito miúda, cabeçudota e com olhos enormes.”
Perceba que o trecho acima apresenta características do ambiente e de personagens. Essa caracterização é obtida por meio da descrição.


Descrever é detalhar uma cena, objeto, sentimento, personagens, destacando-lhe características peculiares, de modo a passar ao leitor/ouvinte uma imagem o mais próxima possível daquela que temos em mente.

Há duas maneiras básicas de descrever: OBJETIVA e SUBJETIVA.

Descrição Objetiva
 Objetivos_o_metas
A realidade é retratada com maior fidelidade possível, não se emitindo qualquer opinião ou julgamento. Leia, as seguintes descrições objetivas:
Exemplo 01
“Os anticorpos são moléculas de proteínas que possuem dois sítios específicos de combinação com os antígenos. Existem, em cada molécula de anticorpo, duas cadeias polipeptídicas leves e duas cadeias pesadas, ligadas entre si por pontes de enxofre.” (Amabis e Martho)
Exemplo 02
“O apartamento que comprei tem três dormitórios – sendo uma suíte – , uma sala em “L”, cozinha, área de serviço e dependências da empregada.”
Exemplo 03 (Descrição no texto narrativo)
“O ar áspero mostrava-se como sempre sulforoso, mas ambos estavam acostumados. O horizonte próximo estava rodeado de neblina, opalescente com o frio e a fumaça, e acima dele erguia-se uma faixa estreita de céu azul;”
(O amante de Lady Chatterley)


Descrição Subjetiva
A realidade é retratada de acordo com o ponto de vista do emissor, que pode opinar e expressar seus sentimentos. Leia, agora, os seguintes textos para visualizar este tipo de descrição.
Exemplo 01
quincas borba
“Este Quincas Borba, se acaso me fizeste o favor de ler as Memórias póstumas de Brás Cubas, é aquele mesmo náufrago da existência, que ali aparece, mendigo, herdeiro inopinado, e inventor de uma filosofia. Aqui tens agora em Barbacena. Logo que chegou, enamorou-se de uma viúva, senhora de condição mediana e parcos meios de vida, tão acanhada, que os suspiros do namorado ficavam sem eco.”
(Machado de Assis)



Exemplo 02
sertão“O senhor sabe: sertão é onde manda quem é forte, com as astúcias. Deus mesmo, quando vier, que venha armado! E bala é um pedaçozinho de metal… sertão é onde o pensamento da gente se forma mais forte do que o poder do lugar. Viver é muito perigoso.”
(Guimarães Rosa)
A descrição permite que o leitor recrie a cena ou imagine o que o escritor está querendo informar ou contar. Poderia acrescentar que a descrição é o elemento básico para que um texto torne-se atrativo. A escolha da maneira da descrição que se usará no texto depende da intenção do escritor. No texto de Guimarães Rosa, o personagem apresenta a opinião que ele tem sobre o significado do sertão, talvez devido à experiência. 
Ambos os estilos descritivos são predominantes em determinados tipos de texto, embora a descrição seja muito usada em qualquer situação em que se queira apresentar ou evidenciar algum fato, cena, pessoa, etc.


Características da Descrição

  • Caracteriza, por meio de imagens ou de palavras, seres e lugares;
  • Emprega adjetivos, locuções adjetivas, verbos de estado e orações adjetivas;
  • Emprega geralmente verbos de estado, normalmente no presente e no imperfeito do indicativo;
  • Estabelece comparações;
  • Faz referências às impressões sensitivas: cores, formas, cheiros, gostos, impressões táteis, sons.
Ordem da Descrição


A ordem da descrição é um verdadeiro “retrato” com palavras. Na descrição literária, o escritor procura ordenar as frases de modo a obter um texto que prenda a atenção do leitor.
Os textos descritivos dificilmente aparecem isolados. Geralmente, fazem parte de um texto maior, do tipo narrativo.
Há várias maneiras de montar uma descrição, dependendo da posição (ponto de vista) do observador em relação àquilo que está sendo observado. As principais são:


  1. Do particular para o geral

Veja um exemplo:


“A pele da garota era desse moreno enxuto e parelho das chinesas. Tinha uns olhos graúdos, lustrosos e negros como os cabelos lisos, e um sorriso suave e limpo a animar-lhe o rosto oval, de feições delicadas.” (Érico Veríssimo)


  1. Do geral para o particular


“A rua estava de novo quase morta, janelas fechadas. A valsa acabara o bis. Sem ninguém. Só o violinista estava ali, fumando, fumegando muito, olhando sem ver, totalmente desamparado, sem nenhum sono, agarrado a não sei que esperança de que alguém, uma garota linda, um fotógrafo, um milionário disfarçado lhe pedisse pra tocar mais uma vez.”


Nestas duas ocasiões de descrição, o escritor irá eleger qual usar de modo que acrescente qualidade ao texto, combinando também o estilo da descrição com a escolha do foco narrativo e a ordem narrativa.

A imagem física ou psicológica é a “alma” da descrição.


Texto descritivo:


Encontrei-o à noitinha no salão, que servia de gabinete de trabalho, com a filha e três visitantes: João Nogueira, uma senhora de preto, alta, velha, magra, outra moça, loura e bonita.
Estavam calados, em dois grupos, os homens separados das mulheres.
O dr. Magalhães é pequenino, tem um nariz grande, um pince-nez e por detrás do pince-nez uns olhinhos risonhos. Os beiços, delgados, apertam-se. Só se descolam para o dr. Magalhães falar a respeito da sua pessoa. Também quando entra neste assunto, não para.
Naquele momento, porém, como já disse, conservavam-se todos em silêncio. D. Marcela sorria para a senhora nova e loura, que sorria também, mostrando os dentinhos brancos.
(Graciliano Ramos. São Bernardo.)


Neste texto temos o retrato de alguns personagens e do ambiente; várias frases nominais indicam ausência de ação, e as imagens permitem uma visualização do que está sendo apresentado.
Atente para a importância dos verbos de ligação e dos predicativos; os adjetivos transformam-se na alma do texto (“… uma senhora de preto, alta, velha, magra; outra moça, loura e bonita.”); “ O dr. Magalhães é pequenino, tem um nariz grande (…) uns olhinhos risonhos …”, etc.). É importante notar, no entanto, que esse retrato não se limita aos aspectos exteriores; temos, também, uma característica psicológica do dr. Magalhães – seu narcisismo (falar dele mesmo é o seu assunto preferido). Um texto com essas características é uma descrição.

Descrição Poética


Na poesia, a descrição está marcada pela função fática, apresentando imagens inusitadas que recriam seres e/ou ambientes. Dificilmente encontramos objetividade nas descrições poéticas, pois, a poesia está marcada pelo subjetivismo.


Função fática: Tem por finalidade estabelecer, prolongar ou interromper a comunicação. É aplicada em situações em que o mais importante não é o que se fala, nem como se fala, mas sim o contato entre o emissor e o receptor. Fática quer dizer “relativa ao fato“, ao que está ocorrendo. Aparece geralmente nas fórmulas de cumprimento: Como vai, tudo certo?; ou em expressões que confirmam que alguém está ouvindo ou está sendo ouvido: sim, claro, sem dúvida, entende?, não é mesmo? É a linguagem das falas telefônicas, saudações e similares.

 Observe o exemplo abaixo:

Retrato
Eu não tinha este rosto de hoje
Assim calmo, assim triste, assim magro,
Nem estes olhos tão vazios,
Nem o lábio amargo.
Eu não tinha estas mãos sem força,
Tão paradas e frias e mortas;
Eu não tinha este coração
Que nem se mostra.
Eu não dei por esta mudança,
Tão simples, tão certa, tão fácil:
– Em que espelho ficou perdida
a minha face?
(Cecília Meireles – Obra poética. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1985.)

Descrição Técnica

Na descrição técnica procura-se transmitir a imagem do objeto através de uma linguagem mais técnica, com um vocabulário preciso, normalmente ligado a uma área da ciência ou da tecnologia.
É o caso das descrições de peças e aparelhos, de experiências e fenômenos, do funcionamento de mecanismos, da redação de manuais de instruções e de artigos científicos.

Exemplo:
[…] Portanto para o modelo ascendente, ler é reconstruir o enunciado verbal a fim de compreender a mensagem apreendendo o pensamento colocado no escrito.  Entende a escrita como transcrição da língua oral, ou seja, para escrevermos necessitamos relacionar o código escrito com o código oral.
Segundo os modelos ascendentes, o leitor, diante do texto, focaliza os seus elementos em um processo sequencial. O comportamento do leitor é preso ao texto, na identificação de letras, de sílabas, de palavras e as decodificações dos sons que constituem pré-requisitos para a compreensão; para compreender é preciso analisar detalhadamente os sinais gráficos (MICOTTI, 2012, p. 12-13).
(ANDRADE, Elaine Cris. Trecho do artigo científico “Alfabetização e Letramento – Processos e Princípios Básicos, 2015.)

Créditos: https://laynnecri.wordpress.com