Presentes de Reis Magos
O. HENRY
O.
Henry (1862-1910) era o pseudónimo de William Sydney Porter, um dos
maiores contistas americanos do século XIX e um dos autores mais
populares do seu tempo. Nasceu na Carolina do Norte numa família culta e
abastada. Aos três anos de idade e após a morte da mãe por tuberculose,
o pai, médico, decidiu que se deviam mudar para a casa da avó paterna.
William começou por frequentar a escola de uma tia e aos 15 anos começou
a frequentar o Liceu que concluiu com a tia por tutora. Em 1879
empregou-se com aprendiz de farmacêutico/boticário na drogaria do seu
tio tendo aos 19 anos obtido a licença de farmacêutico.
Em 1882 foi para o Texas, alguma sintomatologia de tuberculose e a
ideia que uma mudança de clima seria benéfica contribuíram para essa
decisão. Casou e empregou-se como caixa num banco, começando ao mesmo
tempo a escrever. Comprou um jornal, The Rolling Stone, que fechou pouco
depois. Porter foi acusado de desfalque no banco e fugiu para as
Honduras, de onde regressou passados três anos devido ao estado terminal
da sua esposa que tinha permanecido no Texas. Julgado e sentenciado,
cumpriu pena durante quatro anos numa penitenciária do Ohio, tendo
começado a escrever sob o pseudônimo de O. Henry. Saído da prisão,
passou a viver em Nova Iorque em estado de reclusão quase absoluta,
embora fosse extremamente popular, com o terror de ser reconhecido como
William Sydney Porter, devido aos anos passados na prisão. Acabou por
morrer alcoólico e na miséria. O. Henry foi um autor original e fecundo,
com um ritmo de escrita tal que lhe é atribuído praticamente um novo
conto por semana.
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Apresentação da Obra
Presentes de Reis Magos
O. Henry
Adaptação de Paulo Sérgio de Vasconcellos
[I]
Um dólar e oitenta e sete centavos. Era tudo. E sessenta centavos eram em pennies.
Não havia certamente nada a fazer senão cair na pequena poltrona remendada e chorar. Assim fez Della.
Enquanto
a dona da casa está chorando, dê uma olhada na casa. Um pequeno
apartamento mobiliado por oito dólares semanais. Era bem pobre. Na
entrada, uma caixa de correspondência na qual não penetrava nenhuma
carta e uma campainha que nenhum mortal poderia fazer soar.
Della
terminou de chorar e se pôs a passar pó-de-arroz no rosto. Parou perto
da janela e viu lá fora, indiferente, um gato cinza andar por uma cerca
cinza num quintal cinza. Amanhã era o dia de Natal, e ela só tinha um
dólar e oitenta e sete centavos para comprar um presente para Jim. Tinha
poupado cada centavo que podia durantes meses, com tal resultado. Vinte
dólares por semana não duram muito. As despesas tinham sido maiores do
que ela calculara. Sempre são. Somente um dólar e oitenta e sete
centavos para comprar um presente para Jim. O seu Jim. Passara muitas
horas felizes planejando comprar algo bonito para o marido. Algo fino e
raro e de prata maciça — algo que fosse digno da honra depertencer a
Jim.
Havia
um espelho alto e estreito entre as janelas do quarto. De repente,
Della parou diante dele. Seus olhos brilhavam, mas sua face perdera a
cor em vinte segundos. Rapidamente, ela soltou seus cabelos e deixou-os
cair em todo o seu comprimento.
No
momento, havia dois bens de que ela e o marido se orgulhavam. Um era o
relógio de ouro de Jim, que tinha sido de seu pai e de seu avô. O outro
era o cabelo de Della. Agora, então, o belo cabelo de Della lhe caía
pelo corpo, ondulado e brilhante como uma cascata de águas castanhas.
Chegava abaixo de seus joelhos e quase a cobria como um vestido. E então
ela o ajeitou de novo, nervosa e rapidamente. Enquanto hesitava por um
momento e permanecia imóvel, uma lágrima ou duas respingaram no surrado
carpete vermelho.
Pôs
sua velha blusa marrom, seu velho chapéu marrom. Com o brilho
cintilante ainda em seus olhos, precipitou-se para a porta e, descendo
as escadas, para a rua.
Onde
parou, lia-se na tabuleta: “Madame Sofronie. Cabelo de todos os tipos”.
Um lance de escadas Della subiu correndo, e chegou arfando diante da
senhora.
“Quer comprar meu cabelo?”, perguntou Della.
“Eu compro cabelo”, disse Madame. “Tire o chapéu, que eu
vou dar uma olhada nele”.
Caiu ondulante a cascata castanha.
“Vinte dólares”, disse Madame, passando pela massa volumosa sua mão experiente.
“Dê-me logo”, disse Della.
[II]
Oh, e as duas horas seguintes voaram. Della vasculhava as lojas à procura do presente de Jim.
Encontrou,
por fim. Certamente fora feito para Jim e para ninguém mais. Não havia
nada parecido em nenhuma outra loja, e ela havia revirado todas de ponta
a ponta. Era uma corrente de platina para relógio, simples e sóbria,
que valia por si mesma e não por algum adorno supérfluo — como devem ser
as coisas boas. Era digna do Relógio. Assim que a viu, soube que
deveria ser de Jim.
Era
como ele. Simplicidade e valor — a descrição se aplicava a ambos. Vinte
e um dólares pediram por ele, e ela correu para casa levando os oitenta
e sete centavos de troco.
Quando Della chegou em sua casa, sua agitação foi dando lugar à prudência e ao bom-senso. Pôs-se a frisar
“Se
Jim não me matar”, disse para si mesma, “antes de dar uma segunda
olhada em mim, dirá que eu pareço uma menina. Mas o que eu podia fazer —
oh, o que eu podia fazer com um dólar eoitenta e sete centavos!”
Às sete horas o café estava pronto, e a frigideira preparada para fritar as costeletas.
Jim
nunca chegava atrasado. Della dobrou a corrente em sua mão e se sentou
no canto da mesa, perto da porta por onde ele sempre entrava. Então,
ouviu seus passos na escada e, por um momento, ficou pálida. Sussurrou:
“Por favor, Deus, faça com que ele ainda me ache bonita”.
A
porta se abriu e Jim entrou e fechou-a. Parecia abatido e muito sério.
Pobre sujeito, tinha apenas vinte e dois anos — e estava carregando o
peso de uma família! Precisava de um novo capote e estava sem luvas.Jim
parou junto à porta, imóvel. Seus olhos estavam fixados em Della, e
havia neles uma expressão que ela não conseguia interpretar, e isso a
aterrorizava. Não era raiva, nem surpresa, em censura, nem horror, nem
nenhum dos sentimentos para os quais ela estava preparada. Ele
simplesmente olhava para ela fixamente com aquela expressão particular
em seu rosto. Della foi até ele.
“Jim,
querido”, gritou, “não me olhe desse jeito. Cortei meu cabelo e vendi-o
porque eu não podia passar o Natal sem lhe dar um presente. Crescerá de
novo — você não se importa, não é? Tive de fazer isso. Meu cabelo
cresce incrivelmente rápido. Diga “Feliz Natal!”, Jim, e vamos ficar
contentes. Você não sabe que belo, que bonito, que belo presente eu
tenho para você”.
[III]
“Você
cortou o cabelo?”, perguntou Jim, a duras penas, como se só tivesse
chegado a compreender aquilo depois do mais duro trabalho mental.
“Cortei e vendi”, disse Della. “Você gosta de mim assim mesmo, não é? Sou eu mesma, sem meu cabelo, não é verdade?”
Jim olhou o quarto com curiosidade.
“Você disse que seu cabelo foi embora?”, disse, com uma aparência quase de retardado.
“Não
precisa procurá-lo”, disse Della. “Foi vendido, já lhe disse. É véspera
de Natal. Seja bom comigo como isso foi para você. Talvez se possam
contar meus fios de cabelos, mas ninguém poderia contar meu amor por
você. Preparo as costeletas, Jim?”
Jim
pareceu finalmente acordar. Abraçou sua Della. Tirou um embrulho do
capote e o pôs sobre a mesa.“Não se engane a meu respeito, Della”,
disse. “Nada poderia fazer eu gostar menos de você”.
Os dedos brancos de Della abriram o embrulho. E então um grito de alegria; e então lágrimas e soluços, e o conforto do marido.
Pois
ali estavam Os Pentes — um conjunto de pentes que Della namorara por
muito tempo numa vitrine da Broadway. Belos pentes, com a cor certa para
usar no belo cabelo desaparecido. Eram pentes caros, ela sabia, que seu
coração desejara tanto. E agora eram seus, mas as tranças que eles
deveriam adornar tinham sumido.
Mas ela os apertou contra o peito, sorriu, entre lágrimas, e disse: “Meu cabelo cresce tão rápido, Jim!”
E então deu pulos como um gatinho e gritou: “Oh, oh!” Jim não tinha visto ainda seu presente. Ela o estendeu em sua mão.
“Não
é uma beleza, Jim? Vasculhei a cidade toda para encontrá-lo. Dê-me seu
relógio. Quero ver como fica com ele”.Ao invés de obedecer, Jim caiu na
poltrona, pôs as mãos atrás
da cabeça e sorriu.
“Della”,
disse, “vamos deixar nossos presentes de Natal de lado e guardá-los por
ora. São belos demais para usar como meros presentes. Vendi o relógio
para conseguir dinheiro para comprar os pentes. Agora, que tal preparar
as costeletas?”
Os
reis magos, como vocês sabem, eram homens sábios que trouxeram
presentes ao Menino na manjedoura. Inventaram a arte de dar presentes de
Natal. Sendo sábios, seus presentes sem dúvida eram sábios. E aqui eu
relatei a vocês a história de duas crianças tolas num pequeno
apartamento que insensatamente sacrificaram, uma pela outra, os maiores
tesouros de sua casa. Todos os que dão presentes assim estão entre os
mais sábios. Todos que dão e recebem presentes como estes são os mais
sábios. Seja onde for, são os mais sábios. Eles são os reis magos.
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1 Reis Magos:três sábios do Oriente que viajam para prestar homenagem a Jesus Cristo, em seu nascimento, levando-lhe presentes.
2 Pennies: plural de penny, unidade de moeda em uso nos Estados Unidos.
3 Frisar: encrespar, fazer que fique ondulado.
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O
conto Presente de Reis Magos relata a história de um casal muito pobre,
mas que se amam muito. Era véspera de natal, e um dólar e oitenta e
sete centavos eram tudo que Della havia conseguido juntar após suas
economias, a mesma não sabia como presenteá-lo com algo que fosse
bonito, e digno da honra de seu amado. Seus únicos pertences do qual
realmente se orgulhavam, era o cabelo de Della que chegava abaixo de
seus joelhos e o relógio de ouro que havia sido do pai e do avô de Jim.
Depois de hesitar um pouco, Della finalmente criou coragem de sacrificar
um de seus maiores bens para comprar algo que fosse do agrado de seu
marido. Após cortar seu cabelo, ela fica com receio de que ele não goste
do que ela fizera. Logo depois, foi em busca do presente de seu amado, e
após uma longa busca, achou uma corrente de platina, como se tivesse
feita especialmente para Jim, digna do relógio do mesmo. Jim ficou sem
reação ao chegar em casa e se deparar com Della com o cabelo curto, mas o
que Della não sabia era que Jim havia vendido seu relógio para comprar
os pentes que ela namorava há tempos. Aqueles
presentes havia sido inútil para o momento, mais o que realmente
importava era a intenção, e o valor emocional de cada um.
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Curiosidades
Em Presentes de Reis Magos o autor cita no final os três reis magos que na tradição cristã, são personagens que teriam visitado Jesus, trazendo-lhe presentes no dia de seu nascimento ou seja o natal. Daí veio o tal costume de dar se presentes uns aos outros nessa data.
A Sociedade dos Ruivos
Arthur Conan Doyle
Arthur
Ignatius Conan Doyle, nasceu em 1859 em Edimburgo (Escócia) e morreu no
ano de 1930 em Cowborough (Inglaterra). Foi um escritor e médico
britânico, mundialmente famoso por suas 60 histórias sobre o detetive
Sherlock Holmes, consideradas uma grande inovação no campo da literatura
criminal. Foi um escritor prolífico cujos trabalhos incluem histórias
de ficção científica, novelas históricas, peças e romances, poesias e
obras de não-ficção. Em 9 de Agosto de 1902 Arthur Conan Doyle foi
nomeado cavaleiro pela sua importante participação na Guerra Boer.
Trabalhou na linha de frente da batalha como cirurgião, e foi elogiado
pelos compatriotas pela coragem e determinação na prestação de socorro.
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Apresentação da Obra
A Sociedade dos Ruivos
Arthur Conan Doyle
Adaptação de Rogério Hafez
[I]
No ano passado, num dia do outono, fui visitar meu amigo, o famoso
detetive Sherlock Holmes. Encontrei-o na companhia de um cavalheiro
gordo, de meia-idade e cabelos da cor de um vermelho muito brilhante,
com quem ele conversava seriamente.
“Desculpe-me, Holmes”, eu lhe disse, constrangido pelaminha intrusão na conversa, “eu não sabia que você...”
“Ora, Watson, entre aqui”, disse-me Holmes, oferecendo-melogo uma
cadeira para lhes fazer companhia. “Você não nos incomoda. Pelo
contrário, está chegando num ótimo momento.”
“Tenho receio de que você esteja ocupado agora.”
“Não se preocupe”, disse Holmes. E acrescentou, virando-separa aquele
obeso cavalheiro: “Sr. Wilson, este homem tem sidomeu companheiro e
assistente em muitos dos casos que puderesolver com sucesso. Não há
qualquer dúvida de que ele tambémpoderá ajudar-nos em seu caso.”
Com certa dificuldade, aquele homem obeso levantou-se desua cadeira e olhou para mim com muito cuidado, como se me examinasse.
“Sr. Wilson, o senhor se importaria em contar a sua história novamente, desde o início?”, perguntou Holmes. “Parece-me que a sua história é na verdade um caso bastante singular, diferente de todos os outros que já pude conhecer em minha longa experiência, e eu desejo que o Dr. Watson ouça comigo todos os detalhes dela. No momento, eu ainda não saberia dizer ao senhor se há ou não em sua história algum sinal ou prova de um crime cometido.”
O cavalheiro respirou profundamente, com um certo orgulho. Retirou então, de seu bolso, um velho jornal. Enquanto ele procurava, com cuidado, algo na lista de anúncios que estavam numa das colunas do jornal, eu aproveitei esse tempo para observálo. Porém, o exame que eu dele fazia não me permitia concluir muitas coisas, pois o seu aspecto nada tinha de extraordinário e ele se parecia, afinal, com qualquer outro homem da classe média inglesa. A única coisa incomum, nele, era o seu cabelo ruivo, de um vermelho que parecia realmente brilhar. Tenho certeza de que meu amigo Holmes, por sua vez, com o grande poder de observação que possuía, já poderia nesse momento descrever toda a história da vida e da experiência daquele homem, apenas olhando para as suas roupas, as suas maneiras de se comportar, e os muitos detalhes que compunham o conjunto de sua aparência.
Holmes percebeu que eu examinava o Sr. Wilson, e sorriu-me discretamente. “Ah, já o encontrei. Aqui está o anúncio que eu procurava”, disse finalmente o Sr. Wilson. “Toda a história começa com este anúncio. Acho que o senhor pode lê-lo sozinho, Sr. Watson."
“Sr. Wilson, o senhor se importaria em contar a sua história novamente, desde o início?”, perguntou Holmes. “Parece-me que a sua história é na verdade um caso bastante singular, diferente de todos os outros que já pude conhecer em minha longa experiência, e eu desejo que o Dr. Watson ouça comigo todos os detalhes dela. No momento, eu ainda não saberia dizer ao senhor se há ou não em sua história algum sinal ou prova de um crime cometido.”
O cavalheiro respirou profundamente, com um certo orgulho. Retirou então, de seu bolso, um velho jornal. Enquanto ele procurava, com cuidado, algo na lista de anúncios que estavam numa das colunas do jornal, eu aproveitei esse tempo para observálo. Porém, o exame que eu dele fazia não me permitia concluir muitas coisas, pois o seu aspecto nada tinha de extraordinário e ele se parecia, afinal, com qualquer outro homem da classe média inglesa. A única coisa incomum, nele, era o seu cabelo ruivo, de um vermelho que parecia realmente brilhar. Tenho certeza de que meu amigo Holmes, por sua vez, com o grande poder de observação que possuía, já poderia nesse momento descrever toda a história da vida e da experiência daquele homem, apenas olhando para as suas roupas, as suas maneiras de se comportar, e os muitos detalhes que compunham o conjunto de sua aparência.
Holmes percebeu que eu examinava o Sr. Wilson, e sorriu-me discretamente. “Ah, já o encontrei. Aqui está o anúncio que eu procurava”, disse finalmente o Sr. Wilson. “Toda a história começa com este anúncio. Acho que o senhor pode lê-lo sozinho, Sr. Watson."
Então, eu peguei de suas mãos o jornal, e li o seguinte:
Sociedade dos Ruivos — Uma outra posição se abre para o
ingresso na Sociedade dos Ruivos. A Sociedade foi fundada há
alguns anos com o dinheiro deixado para esse fim pelo Sr. E.
Hopkins, do Estado da Pensilvânia, nos Estados Unidos da
América. Os membros da Sociedade recebem um salário de 4
pounds3 por semana. O trabalho que têm na instituição é muito
pouco e não os impede de trabalhar em outro local. Podem
candidatar-se à posição de membro da Sociedade todos os homens
ruivos de Londres que tenham mais de vinte e um anos de idade.
Para se candidatarem, devem procurar o Sr. Duncan Ross nos
escritórios da Sociedade dos Ruivos, que se encontram na Rua
Fleet, número 7. O Sr. Duncan Ross estará recebendo os
candidatos apenas na próxima segunda-feira, às onze horas da
manhã.
“Não
entendo bem. O que significa isto?”, perguntei, depois de ter lido por
duas vezes o anúncio, tentando compreender-lhe o sentido.
Holmes sorriu novamente. Perguntou-me então, com o humor que habitualmente demonstrava quando começava a investigar um caso novo e interessante: “Parece bastante incomum, não?” E, voltando-se para o cavalheiro: “Sr. Wilson, conte-nos um pouco de sua vida pessoal e do impacto que teve sobre ela este anúncio que o senhor nos mostrou. Você deve ter notado a data do jornal, não é mesmo, Watson? Este anúncio foi publicado há exatamente dois meses.”
Holmes sorriu novamente. Perguntou-me então, com o humor que habitualmente demonstrava quando começava a investigar um caso novo e interessante: “Parece bastante incomum, não?” E, voltando-se para o cavalheiro: “Sr. Wilson, conte-nos um pouco de sua vida pessoal e do impacto que teve sobre ela este anúncio que o senhor nos mostrou. Você deve ter notado a data do jornal, não é mesmo, Watson? Este anúncio foi publicado há exatamente dois meses.”
[II]
“Bem,
como eu estava dizendo ao senhor, antes da chegada do Dr. Watson”,
disse o Sr. Wilson, “eu tenho um pequeno negócio, uma casa de penhores.
Empresto dinheiro às pessoas e recebo, como garantia de meus
empréstimos, jóias, roupas e outros objetos pessoais. Minha loja está
situada na Praça Coburg, bem perto do centro da cidade. Vivo, eu mesmo,
nos poucos cômodos que ficam nos fundos de minha loja, nessa mesma casa.
Devo dizer ao senhor que, nos últimos tempos, meus negócios não têm
andado nada bem, e tem sido com muita dificuldade que tenho conseguido
ganhar o meu sustento. Eu sempre tive em minha vida recursos para pagar
dois ajudantes, mas agora posso contar com apenas um. Felizmente, esse
ajudante aceitou trabalhar para mim recebendo apenas a metade do salário
a que teria normalmente direito. Se eu
tivesse de pagar todo o seu salário, não poderia hoje tê-lo a meu lado como um empregado.”
“Diga-me, Sr. Wilson: como se chama esse jovem ajudante que, tão gentilmente, aceitou trabalhar para o senhor recebendo apenas a metade do salário?”, perguntou Holmes.
“Ele se chama Vincent Spaulding, e na verdade não é tão jovem como o senhor deve ter suposto. Ele não é um aprendiz nessa profissão e não sei, na realidade, qual é a idade que tem, mas é muito competente e trabalha de modo inteiramente satisfatório. Imagine o senhor que freqüentemente me pergunto por que razão ele não me deixa e não procura uma colocação mais adequada às suas capacidades. Ele encontraria facilmente outro lugar em que poderia trabalhar, tenho certeza disso. Mas na verdade sou grato a ele e estou muito feliz com seu trabalho.”
“Sim, de fato, tudo isso é bastante estranho”, disse Holmes. “Talvez tão estranho quanto esse anúncio que o senhor nos mostrou.” “Mas veja bem, acho que ele também tem os seus defeitos”, retomou Wilson. “Por exemplo: ele se interessa demasiadamente, a meu ver, pela técnica da fotografia. Nunca conheci ninguém assim. Ele gasta um tempo enorme, de fato, tirando as suas fotografias, em vez de se dedicar aos estudos ou trabalhar ainda mais. E depois ele é obrigado a descer ao nosso porão, onde permanece durante horas revelando os seus negativos.”
“Ele ainda continua trabalhando com o senhor, eu suponho”, disse Holmes.
“Ah, sim”, disse Wilson. “E foi ele também que, por coincidência, chamou a minha atenção para este anúncio da Sociedade dos Ruivos. Lembro-me muito bem: ele chegou um dia à loja com este mesmo jornal em suas mãos, dizendo-me: ‘Ah, Sr. Wilson, o senhor é que é um afortunado! Como eu gostaria de ser um homem ruivo!’”
“Diga-me, Sr. Wilson: como se chama esse jovem ajudante que, tão gentilmente, aceitou trabalhar para o senhor recebendo apenas a metade do salário?”, perguntou Holmes.
“Ele se chama Vincent Spaulding, e na verdade não é tão jovem como o senhor deve ter suposto. Ele não é um aprendiz nessa profissão e não sei, na realidade, qual é a idade que tem, mas é muito competente e trabalha de modo inteiramente satisfatório. Imagine o senhor que freqüentemente me pergunto por que razão ele não me deixa e não procura uma colocação mais adequada às suas capacidades. Ele encontraria facilmente outro lugar em que poderia trabalhar, tenho certeza disso. Mas na verdade sou grato a ele e estou muito feliz com seu trabalho.”
“Sim, de fato, tudo isso é bastante estranho”, disse Holmes. “Talvez tão estranho quanto esse anúncio que o senhor nos mostrou.” “Mas veja bem, acho que ele também tem os seus defeitos”, retomou Wilson. “Por exemplo: ele se interessa demasiadamente, a meu ver, pela técnica da fotografia. Nunca conheci ninguém assim. Ele gasta um tempo enorme, de fato, tirando as suas fotografias, em vez de se dedicar aos estudos ou trabalhar ainda mais. E depois ele é obrigado a descer ao nosso porão, onde permanece durante horas revelando os seus negativos.”
“Ele ainda continua trabalhando com o senhor, eu suponho”, disse Holmes.
“Ah, sim”, disse Wilson. “E foi ele também que, por coincidência, chamou a minha atenção para este anúncio da Sociedade dos Ruivos. Lembro-me muito bem: ele chegou um dia à loja com este mesmo jornal em suas mãos, dizendo-me: ‘Ah, Sr. Wilson, o senhor é que é um afortunado! Como eu gostaria de ser um homem ruivo!’”
“Por quê?”, eu lhe perguntei.
“Veja este anúncio: há uma nova vaga na Sociedade dos Ruivos. Parece, pelo que dizem, que o homem que consegue ser admitido nessa Sociedade acaba recebendo uma fortuna em dinheiro. Dizem que o salário é muito bom e que não é preciso trabalhar muito para fazer jus a ele. Eu dou a minha palavra ao senhor e lhe garanto que eu não acharia nada mal se, nesse instante, o meu cabelo mudasse repentinamente de cor e se tornasse ruivo.”
“‘Mas... diga-me, de que tipo de trabalho se trata afinal?’, perguntei. ‘O senhor há de compreender essa minha curiosidade e a minha precária situação, Sr. Holmes: sou um homem muito caseiro e solitário, sei muito pouco do que acontece pelo mundo afora. Não tenho o costume de ler os jornais e, mesmo à noite, tenho o hábito de permanecer em casa. Não gosto de sair de casa.’”
“Veja este anúncio: há uma nova vaga na Sociedade dos Ruivos. Parece, pelo que dizem, que o homem que consegue ser admitido nessa Sociedade acaba recebendo uma fortuna em dinheiro. Dizem que o salário é muito bom e que não é preciso trabalhar muito para fazer jus a ele. Eu dou a minha palavra ao senhor e lhe garanto que eu não acharia nada mal se, nesse instante, o meu cabelo mudasse repentinamente de cor e se tornasse ruivo.”
“‘Mas... diga-me, de que tipo de trabalho se trata afinal?’, perguntei. ‘O senhor há de compreender essa minha curiosidade e a minha precária situação, Sr. Holmes: sou um homem muito caseiro e solitário, sei muito pouco do que acontece pelo mundo afora. Não tenho o costume de ler os jornais e, mesmo à noite, tenho o hábito de permanecer em casa. Não gosto de sair de casa.’”
“Não me diga que o senhor nunca ouviu falar da Sociedade dos
Ruivos...”, foi o que me perguntou nesse dia, com os olhos arregalados, o
meu ajudante, Vincent Spaulding.
E lhe respondi: “Não, nunca.”
“Isso é muito curioso, ainda mais sendo o senhor um homem ruivo. Mas isso não tem importância, acho que o senhor talvez possa obter uma posição nessa Sociedade de todo modo”, ele disse.
“E será que vale a pena? O que é que vou ganhar com isso?”, perguntei.
“Bem, sendo admitido na Sociedade, o senhor ganhará cerca de duzentos pounds por ano. Acho que é muito dinheiro, sobretudo se o senhor pensar que o trabalho é bastante leve. Ele não exige quase nada dos membros da Sociedade, e parece que é possível conjugá-lo, ao mesmo tempo, com o trabalho que se tem normalmente em outro lugar.”
“Vincent, diga-me tudo o que você sabe sobre esse trabalho”, eu lhe disse, pois estava ficando, naturalmente, bastante interessado nessa possibilidade de vir a ganhar algum dinheiro extra, ainda mais diante das dificuldades que eu venho enfrentando, como já expliquei aos senhores.
“Bem, o senhor pode ler com os seus próprios olhos, basta ver este anúncio. A Sociedade dos Ruivos dispõe de uma vaga no momento, e aqui está o endereço para os candidatos se apresentarem. Toda a informação necessária está dada no anúncio: se eu o entendo bem, a Sociedade foi fundada por um estranho milionário americano, o Sr. E. Hopkins, cujas maneiras eram de fato excêntricas e cujos cabelos eram, também, ruivos. Ele sempre teve uma enorme simpatia por todos os homens ruivos que conheceu na vida. Quando ele morreu, descobriu-se que ele havia deixado, em seu testamento, instruções e uma imensa fortuna para que se formasse a Sociedade dos Ruivos, que desse oportunidades de trabalho para homens ruivos. Ele desejava, como disse em seu testamento, que se oferecesse aos ruivos sempre um trabalho simples e muito bem pago.”
E lhe respondi: “Não, nunca.”
“Isso é muito curioso, ainda mais sendo o senhor um homem ruivo. Mas isso não tem importância, acho que o senhor talvez possa obter uma posição nessa Sociedade de todo modo”, ele disse.
“E será que vale a pena? O que é que vou ganhar com isso?”, perguntei.
“Bem, sendo admitido na Sociedade, o senhor ganhará cerca de duzentos pounds por ano. Acho que é muito dinheiro, sobretudo se o senhor pensar que o trabalho é bastante leve. Ele não exige quase nada dos membros da Sociedade, e parece que é possível conjugá-lo, ao mesmo tempo, com o trabalho que se tem normalmente em outro lugar.”
“Vincent, diga-me tudo o que você sabe sobre esse trabalho”, eu lhe disse, pois estava ficando, naturalmente, bastante interessado nessa possibilidade de vir a ganhar algum dinheiro extra, ainda mais diante das dificuldades que eu venho enfrentando, como já expliquei aos senhores.
“Bem, o senhor pode ler com os seus próprios olhos, basta ver este anúncio. A Sociedade dos Ruivos dispõe de uma vaga no momento, e aqui está o endereço para os candidatos se apresentarem. Toda a informação necessária está dada no anúncio: se eu o entendo bem, a Sociedade foi fundada por um estranho milionário americano, o Sr. E. Hopkins, cujas maneiras eram de fato excêntricas e cujos cabelos eram, também, ruivos. Ele sempre teve uma enorme simpatia por todos os homens ruivos que conheceu na vida. Quando ele morreu, descobriu-se que ele havia deixado, em seu testamento, instruções e uma imensa fortuna para que se formasse a Sociedade dos Ruivos, que desse oportunidades de trabalho para homens ruivos. Ele desejava, como disse em seu testamento, que se oferecesse aos ruivos sempre um trabalho simples e muito bem pago.”
[III]
“Mas
como assim? Não entendo bem: há certamente milhões de homens ruivos
espalhados pelo mundo, e certamente não há posições na Sociedade do Sr.
Hopkins para todos eles”, eu disse.
“‘Na verdade, não se trata de todo o conjunto dos homens ruivos’,
explicou-me Vincent. ‘O Sr. Hopkins desejou que a Sociedade se limitasse
aos ruivos da cidade de Londres, e que só ingressassem nela homens
adultos. Isto porque esse milionário americano era nascido em Londres, e
desejava fazer algo de bom à sua cidade natal, que ele muito amava.
Além disso, há um detalhe importante: ouvi falar que um dos requisitos
principais para o ingresso na Sociedade é o de que a cor dos cabelos não
seja apenas ligeiramente ruiva, ou tampouco demasiadamente ruiva. É
preciso que eles sejam ruivos exatamente como os do senhor, isto é, de
uma
cor ruiva inconfundível e brilhante. É por essa razão que eu tenho
certeza, Sr. Wilson, de que o senhor poderia facilmente ingressar na
Sociedade dos Ruivos — supondo, é claro, que o senhor se interesse por
isso.’”
“Bem, cavalheiros, é de fato inegável que eu tenho os cabelos ruivos, e foi por isso que eu imaginei que seria capaz de ingressar na Sociedade do Sr. Hopkins e ganhar esse dinheiro extra de que tanto necessitava. Como meu ajudante Vincent parecia estar bastante informado acerca da Sociedade, pedi-lhe que me acompanhasse, na segunda-feira seguinte, até o endereço indicado no anúncio. Pois bem, Sr. Holmes, saiba o senhor que fomos àquele local no dia marcado, e que eu fiquei muito impressionado com o que então pude ver. Tive a impressão de que todos os londrinos que possuíam os cabelos ligeiramente arruivados haviam comparecido à Rua Fleet, com a intenção de obter aquele emprego. A rua estava inteiramente tomada por uma enorme multidão, e havia ainda uma fila de pessoas à espera, que se arrastava por todo um quarteirão. Quando vi todos aqueles homens ali reunidos, tive vontade de desistir imediatamente daquela idéia de ingressar na Sociedade e quis voltar para casa. Vincent, porém, insistiu em que eu permanecesse, encorajando-me muito ao fazer uma observação: eu era um dos poucos homens que, em meio àquela multidão, possuíam os cabelos realmente ruivos e brilhantes. Por fim, muito convicto, ele mesmo tomou a iniciativa de abrir caminho em meio à multidão, mesmo recorrendo aos empurrões e às cotoveladas , até que conseguimos chegar aos pés da escada que dava acesso ao escritório da Sociedade. A visão que tive então também era bastante desoladora. Havia ali apenas duas fileiras de homens: uma dos que entravam esperançosos no escritório, e outra dos que dele saíam, com um ar de desespero.”
“Bem, cavalheiros, é de fato inegável que eu tenho os cabelos ruivos, e foi por isso que eu imaginei que seria capaz de ingressar na Sociedade do Sr. Hopkins e ganhar esse dinheiro extra de que tanto necessitava. Como meu ajudante Vincent parecia estar bastante informado acerca da Sociedade, pedi-lhe que me acompanhasse, na segunda-feira seguinte, até o endereço indicado no anúncio. Pois bem, Sr. Holmes, saiba o senhor que fomos àquele local no dia marcado, e que eu fiquei muito impressionado com o que então pude ver. Tive a impressão de que todos os londrinos que possuíam os cabelos ligeiramente arruivados haviam comparecido à Rua Fleet, com a intenção de obter aquele emprego. A rua estava inteiramente tomada por uma enorme multidão, e havia ainda uma fila de pessoas à espera, que se arrastava por todo um quarteirão. Quando vi todos aqueles homens ali reunidos, tive vontade de desistir imediatamente daquela idéia de ingressar na Sociedade e quis voltar para casa. Vincent, porém, insistiu em que eu permanecesse, encorajando-me muito ao fazer uma observação: eu era um dos poucos homens que, em meio àquela multidão, possuíam os cabelos realmente ruivos e brilhantes. Por fim, muito convicto, ele mesmo tomou a iniciativa de abrir caminho em meio à multidão, mesmo recorrendo aos empurrões e às cotoveladas , até que conseguimos chegar aos pés da escada que dava acesso ao escritório da Sociedade. A visão que tive então também era bastante desoladora. Havia ali apenas duas fileiras de homens: uma dos que entravam esperançosos no escritório, e outra dos que dele saíam, com um ar de desespero.”
“De fato isso é muito, muito interessante”, disse Holmes.
“Queira continuar, por favor, Sr. Wilson.”
“No interior do escritório, não havia nada senão algumas poucas
cadeiras e uma mesa. Atrás dela, estava sentado um homem de cabelos
ruivos, ainda mais brilhantes do que os meus. Ele sempre dizia algumas
palavras gentis a cada homem que se apresentava, mas era depois muito
exigente: logo descobria um defeito no candidato e já o dispensava.
Percebi então que obter aquela posição não era, afinal, algo simples
como podia parecer. Porém, quando chegou a minha vez, aquele homem deu a
impressão de ter ficado muito interessado; ele fechou a porta atrás de
mim, de modo que pudéssemos conversar com maior privacidade.”
“‘Eu tomo a liberdade de apresentá-lo ao Sr. Wilson’, disse Vincent
Spaulding, que havia permanecido comigo; ‘ele gostaria de ocupar a vaga
que está sendo oferecida na Sociedade dos Ruivos.’”
“‘Muito bem, parece que os cabelos dele têm, de fato, a cor certa’, ele
respondeu. ‘Confesso que estou muito impressionado: não me recordo de
ter visto, jamais, cabelos ruivos de uma cor tão perfeita.’ E então ele
recuou um pouco, afastando-se um passo e examinando-me com toda a
atenção durante mais de um minuto. Depois disso, estendeu-me a mão e
cumprimentou-me efusivamente.”
“‘O senhor vai me desculpar’, ele prosseguiu, ‘mas tenho ainda de tomar
uma precaução’. E então, de repente, ele agarrou os meus cabelos com
suas duas mãos e começou a puxá-los; ele os puxou tanto e tanto que, ao
final, eu gritei de dor. ‘Estou vendoque há verdadeiras lágrimas nos
seus olhos’, ele disse quando os
soltou.
‘Já basta, está tudo muito bem. O senhor sabe, nós temos de ser muito
cuidadosos na seleção dos candidatos, pois já nos enganaram algumas
vezes por meio de cabelos artificiais ou mesmo com tingimentos.’ Ele foi
então até a janela e gritou à multidão, que ainda aguardava na rua, que
a vaga já havia sido preenchida. Houve então muitos gritos de
desapontamento, mas logo depois os homens se retiraram, um por um, até
que as únicas cabeças ruivas que permaneciam à vista fossem a do gerente
do escritório e a minha própria.”
[IV]
“Então ele se apresentou mais delicadamente: ‘Meu nome é Duncan Ross’,
disse, ‘e eu também sou um membro da Sociedade dos Ruivos.’”
“Ele perguntou-me se eu era casado e, quando respondi que era solteiro, ele disse com uma voz grave e triste:
“Sinto muito ouvir o senhor falar uma coisa dessas. A Sociedade
realmente dá preferência a homens casados, pois ela tem outro importante
objetivo, o de que seus membros tenham filhos ruivos. Mas... quem
sabe... talvez eles possam aceitá-lo mesmo assim.”
“Esclareci a ele também que eu já possuía uma atividade em minha casa
de penhores e que estaria sempre ocupado durante uma parte do dia, mas
Vincent Spaulding me interrompeu então, dizendo que teria muito prazer
em me substituir na loja, para que eu pudesse aceitar todo o período de
trabalho na Sociedade.”
“Qual será o horário de trabalho?”, perguntei.
“Das dez da manhã às duas da tarde, todos os dias.”
“Bem, uma vez que o meu trabalho na loja é feito principalmente à
tarde, e já que eu tinha muita confiança em Vincent Spaulding, sabendo
que ele poderia facilmente desempenhar a minha função durante a minha
ausência, aquela proposta do Sr. Ross pareceu-me muito conveniente e
satisfatória.”
“Isso se adapta perfeitamente à minha situação”, eu lhe disse. “E qual será o pagamento?”
“Quatro pounds por semana.”
“E qual é o trabalho que deverei fazer?”
“‘O trabalho é realmente muito simples’, respondeu. ‘O senhor terá de estar neste escritório das dez horas da manhã às duas horas da tarde, como lhe disse, todos os dias. Se o senhor sair do escritório durante esse período, perderá imediatamente, de modo definitivo, sua posição na Sociedade. Durante o seu tempo de trabalho, o senhor terá simplesmente de copiar páginas da Enciclopédia Britânica. O senhor vai começar pelo primeiro volume, o da letra “A”, e deve trazer consigo sua própria canetatinteiro, mais papel e tinta. O senhor acha que estaria pronto para já começar amanhã mesmo?’”
“Sim, com certeza”, respondi.
“Então está tudo acertado. Até breve, Sr. Wilson. Permita-lhe dizer apenas que o considero um homem muito afortunado, por ter sido admitido na Sociedade dos Ruivos.” Então fizemos um aperto de mãos, e fui para casa, na companhia de meu ajudante, sentindome muito bem e muito feliz com a minha própria sorte.
“Ao entardecer, porém, quando me pus a refletir sobre tudo o que ocorrera, eu já não estava tão contente assim. Parecia-me na verdade ridículo que alguém se dispusesse a me pagar aquele salário de 4 pounds por semana — que era, afinal, uma quantia de dinheiro considerável — simplesmente em troca da minha presença num escritório, quatro horas por dia, a fim de que eu copiasse verbetes da Enciclopédia Britânica. Eu achei que alguém deveria estar tentando, com isso, pregar-me uma peça, ou fazer-me de bobo, os senhores entendem?”
“Quatro pounds por semana.”
“E qual é o trabalho que deverei fazer?”
“‘O trabalho é realmente muito simples’, respondeu. ‘O senhor terá de estar neste escritório das dez horas da manhã às duas horas da tarde, como lhe disse, todos os dias. Se o senhor sair do escritório durante esse período, perderá imediatamente, de modo definitivo, sua posição na Sociedade. Durante o seu tempo de trabalho, o senhor terá simplesmente de copiar páginas da Enciclopédia Britânica. O senhor vai começar pelo primeiro volume, o da letra “A”, e deve trazer consigo sua própria canetatinteiro, mais papel e tinta. O senhor acha que estaria pronto para já começar amanhã mesmo?’”
“Sim, com certeza”, respondi.
“Então está tudo acertado. Até breve, Sr. Wilson. Permita-lhe dizer apenas que o considero um homem muito afortunado, por ter sido admitido na Sociedade dos Ruivos.” Então fizemos um aperto de mãos, e fui para casa, na companhia de meu ajudante, sentindome muito bem e muito feliz com a minha própria sorte.
“Ao entardecer, porém, quando me pus a refletir sobre tudo o que ocorrera, eu já não estava tão contente assim. Parecia-me na verdade ridículo que alguém se dispusesse a me pagar aquele salário de 4 pounds por semana — que era, afinal, uma quantia de dinheiro considerável — simplesmente em troca da minha presença num escritório, quatro horas por dia, a fim de que eu copiasse verbetes da Enciclopédia Britânica. Eu achei que alguém deveria estar tentando, com isso, pregar-me uma peça, ou fazer-me de bobo, os senhores entendem?”
“Sim, entendemos sua preocupação”, disse eu imediatamente.
“Entretanto Vincent Spaulding, meu assistente, disse-me que tinha certeza de que tudo estava bem, e de que não havia nada com que eu deveria me preocupar. Suas impressões me tranquilizaram bastante, de modo que, no dia seguinte, resolvi experimentar aquele trabalho, ainda que não estivesse certo de dever aceitá-lo. Comprei tinta, papel, uma nova caneta, e dirigi-me ao escritório da Rua Fleet.”
“Bem, devo dizer aos senhores que, para a minha grande surpresa, tudo transcorreu de uma maneira correta e muito satisfatória. A mesa do escritório já estava pronta para o meu trabalho, e o Sr. Duncan Ross estava lá à minha espera. Ele deu-me o volume da Enciclopédia Britânica com letra ‘A’ para começar a copiar e, de tempos em tempos, vinha dar uma olhada em meu trabalho para ver como é que eu estava me saindo. Às duas horas da tarde, em ponto, ele veio despedir-se de mim, dizendo que meu expediente6 estava encerrado naquele dia e que ele estava muito contente com o meu primeiro dia de trabalho.”
“O mesmo ocorreu nos dias seguintes. No sábado, o Sr. Ross veio até mim e pagou-me integralmente o salário de 4 pounds referente àquela semana. Fiquei, então, naturalmente muito feliz com o andamento de todas as coisas. À medida que o tempo prosseguia, o Sr. Ross vinha me ver com uma freqüência cada vez menor, até que, por fim, ele só raramente aparecia no escritório, a não ser aos sábados, quando vinha pagar-me, coisa que jamais deixou de fazer, e com toda a pontualidade. Assim sendo, eu nunca pensei em deixar o escritório sequer um momento durante o meu expediente, pois tinha, naturalmente, muito medo de perder aquela excelente posição que havia conquistado na Sociedade dos Ruivos.”
“Entretanto Vincent Spaulding, meu assistente, disse-me que tinha certeza de que tudo estava bem, e de que não havia nada com que eu deveria me preocupar. Suas impressões me tranquilizaram bastante, de modo que, no dia seguinte, resolvi experimentar aquele trabalho, ainda que não estivesse certo de dever aceitá-lo. Comprei tinta, papel, uma nova caneta, e dirigi-me ao escritório da Rua Fleet.”
“Bem, devo dizer aos senhores que, para a minha grande surpresa, tudo transcorreu de uma maneira correta e muito satisfatória. A mesa do escritório já estava pronta para o meu trabalho, e o Sr. Duncan Ross estava lá à minha espera. Ele deu-me o volume da Enciclopédia Britânica com letra ‘A’ para começar a copiar e, de tempos em tempos, vinha dar uma olhada em meu trabalho para ver como é que eu estava me saindo. Às duas horas da tarde, em ponto, ele veio despedir-se de mim, dizendo que meu expediente6 estava encerrado naquele dia e que ele estava muito contente com o meu primeiro dia de trabalho.”
“O mesmo ocorreu nos dias seguintes. No sábado, o Sr. Ross veio até mim e pagou-me integralmente o salário de 4 pounds referente àquela semana. Fiquei, então, naturalmente muito feliz com o andamento de todas as coisas. À medida que o tempo prosseguia, o Sr. Ross vinha me ver com uma freqüência cada vez menor, até que, por fim, ele só raramente aparecia no escritório, a não ser aos sábados, quando vinha pagar-me, coisa que jamais deixou de fazer, e com toda a pontualidade. Assim sendo, eu nunca pensei em deixar o escritório sequer um momento durante o meu expediente, pois tinha, naturalmente, muito medo de perder aquela excelente posição que havia conquistado na Sociedade dos Ruivos.”
[V]
“Como assim? Acabou?”
“Sim senhor, acabou! Uma manhã eu fui para o trabalho, como já havia me habituado, às dez horas, mas a porta do escritório estava trancada. Nada havia no local, a não ser um pequeno cartaz colado à porta. Aqui está também o cartaz, eu o trouxe para que vocês pudessem lê-lo com os próprios olhos.”
Ele nos ergueu um pedaço de papel branco, no qual se lia o seguinte:
A Sociedade dos Ruivos foi extinta.
9 de outubro de 1890
“‘Eu não vejo nada muito engraçado nisso tudo’, disse o Sr. Wilson, irritando-se ligeiramente com as nossas risadas. ‘Se os senhores nada podem fazer nesse caso, a não ser rir de mim, eu posso perfeitamente procurar outro detetive.’”
‘“Não, não, de modo algum’, interveio Holmes, desculpandose. ‘Estou de fato interessadíssimo pelo seu caso. Ele é absolutamente incomum, asseguro-lhe. Mas ele também tem, igualmente, o senhor há de convir, um lado humorístico. Mas conte-me, quais foram as ações que o senhor tomou a seguir?’”
“No início, para ser franco, eu não sabia bem o que fazer. Eu fui a alguns dos outros escritórios que há no mesmo edifício do número 7 da Rua Fleet, mas em nenhum deles consegui nenhuma informação acerca do fechamento do escritório da Sociedade. Dirigi-me, então, ao proprietário do edifício: ele me disse que jamais tinha ouvido falar da tal Sociedade dos Ruivos. Pergunteilhe, então, quem era o Sr. Duncan Ross: ele me disse que esse nome era inteiramente desconhecido dele.” Resolvi fazer-lhe então a mesma questão de um outro modo:
“Refiro-me ao senhor que ocupava a sala de número 4 do edifício, e que aí possuía um escritório.”
“Ah, aquele senhor de cabelos ruivos?”
“Exatamente”, disse-lhe eu, já com certa impaciência.
“‘Oh, o seu nome era William Morris’, disse-me o proprietário, ‘ele era um advogado e estava servindo-se da sala de número 4 como um local temporário de trabalho, até que terminasse a construção de seu escritório.’”
“E onde é que eu posso encontrá-lo agora?”
“Oh, creio que no novo escritório que ele tem. Se não me engano, ele deu-me seu novo endereço. Sim, aqui está: Rua King, número 17.”
“Eu parti imediatamente para aquele local, mas quando cheguei ao número 17 da Rua King... tratava-se na verdade de um edifício de uma enorme fábrica, e ninguém sabia me dizer nada a respeito de um senhor chamado William Morris ou Duncan Ross.”
“O que foi que o senhor resolveu fazer, então?”, perguntou Holmes.
“Eu simplesmente fui para minha casa e conversei com meu ajudante, Sr. Vincent Spaulding, sobre todo o ocorrido. Ele tranqüilizou-me mais uma vez, dizendo-me que tinha certeza de que eu iria receber pelo menos um comunicado da Sociedade pelo correio. Disse-me, em resumo, que na sua opinião eu deveria esperar. E é o que tenho feito desde então; mas confesso que eu não gostaria de perder, neste ínterim, uma posição tão boa como essa que havia conquistado. Além disso, Sr. Holmes, decidi vir procurá-lo e consultá-lo porque ouvi falar que o senhor às vezes ajuda pessoas pobres a resolver os problemas que têm. Isso é tudo o que eu tinha a dizer ao senhor, creio eu.”
“O senhor foi muito sábio, e agiu muito bem”, disse Holmes. “Estou certo de que poderei ajudá-lo. O seu caso é extremamente incomum, e eu acho que talvez se trate de um assunto muito mais sério do que o senhor imagina.”
“‘Mas já é muito sério’, insistiu Wilson, ‘pois eu perdi um trabalho que me pagava muito bem.”’
‘“O senhor tem toda a razão’, disse Holmes gentilmente. ‘Agora, tenha a gentileza de me contar algumas coisas a respeito desse seu ajudante, Vincent Spaulding, pois estou muito intrigadocom ele. Quanto tempo fazia que ele já trabalhava para o senhor quando ele lhe trouxe este anúncio da Sociedade dos Ruivos?”’
“Cerca de um mês.”
“Como foi que ele se apresentou ao senhor?”
“Em resposta a um anúncio de emprego que eu fizera.”
“Ele foi o único candidato que se apresentou em resposta ao anúncio?”
“Não, havia cerca de uma dúzia de pessoas.”
“E por que o senhor o escolheu, preferindo-o aos demais?”
“Porque ele me pareceu muito capaz e porque se dispôs a trabalhar recebendo apenas a metade do salário usual para aquele emprego.”
“Como ele é fisicamente, Sr. Wilson, esse tal de Vincent Spaulding?”
“Ele tem baixa estatura, é muito ligeiro em seus movimentos e tem muito pouca barba em seu rosto, embora esteja, acho eu, com cerca de trinta anos de idade. Ele tem também uma mancha clara em sua fronte, produzida pela queda de um ácido sobre a sua pele.”
Nesse momento, Holmes endireitou-se em sua cadeira, demonstrando uma grande excitação. “Eu acho que conheço esse homem”, disse. “Ele não tem as orelhas furadas, a fim de poder usar brincos?”
“Sim, é verdade, ele tem.”
“Muito bem”, disse Holmes. “Ele ainda trabalha para o senhor?”
“Sim, e ele continua desempenhando as suas funções perfeitamente”, disse Wilson.
“Isso já é o bastante, Sr. Wilson”, disse Holmes. “Eu terei grande satisfação em dar um parecer ao senhor daqui a um ou dois dias — provavelmente na segunda-feira próxima. Despeço-me aqui do senhor. Até lá, e passe bem!”
“Oh, creio que no novo escritório que ele tem. Se não me engano, ele deu-me seu novo endereço. Sim, aqui está: Rua King, número 17.”
“Eu parti imediatamente para aquele local, mas quando cheguei ao número 17 da Rua King... tratava-se na verdade de um edifício de uma enorme fábrica, e ninguém sabia me dizer nada a respeito de um senhor chamado William Morris ou Duncan Ross.”
“O que foi que o senhor resolveu fazer, então?”, perguntou Holmes.
“Eu simplesmente fui para minha casa e conversei com meu ajudante, Sr. Vincent Spaulding, sobre todo o ocorrido. Ele tranqüilizou-me mais uma vez, dizendo-me que tinha certeza de que eu iria receber pelo menos um comunicado da Sociedade pelo correio. Disse-me, em resumo, que na sua opinião eu deveria esperar. E é o que tenho feito desde então; mas confesso que eu não gostaria de perder, neste ínterim, uma posição tão boa como essa que havia conquistado. Além disso, Sr. Holmes, decidi vir procurá-lo e consultá-lo porque ouvi falar que o senhor às vezes ajuda pessoas pobres a resolver os problemas que têm. Isso é tudo o que eu tinha a dizer ao senhor, creio eu.”
“O senhor foi muito sábio, e agiu muito bem”, disse Holmes. “Estou certo de que poderei ajudá-lo. O seu caso é extremamente incomum, e eu acho que talvez se trate de um assunto muito mais sério do que o senhor imagina.”
“‘Mas já é muito sério’, insistiu Wilson, ‘pois eu perdi um trabalho que me pagava muito bem.”’
‘“O senhor tem toda a razão’, disse Holmes gentilmente. ‘Agora, tenha a gentileza de me contar algumas coisas a respeito desse seu ajudante, Vincent Spaulding, pois estou muito intrigadocom ele. Quanto tempo fazia que ele já trabalhava para o senhor quando ele lhe trouxe este anúncio da Sociedade dos Ruivos?”’
“Cerca de um mês.”
“Como foi que ele se apresentou ao senhor?”
“Em resposta a um anúncio de emprego que eu fizera.”
“Ele foi o único candidato que se apresentou em resposta ao anúncio?”
“Não, havia cerca de uma dúzia de pessoas.”
“E por que o senhor o escolheu, preferindo-o aos demais?”
“Porque ele me pareceu muito capaz e porque se dispôs a trabalhar recebendo apenas a metade do salário usual para aquele emprego.”
“Como ele é fisicamente, Sr. Wilson, esse tal de Vincent Spaulding?”
“Ele tem baixa estatura, é muito ligeiro em seus movimentos e tem muito pouca barba em seu rosto, embora esteja, acho eu, com cerca de trinta anos de idade. Ele tem também uma mancha clara em sua fronte, produzida pela queda de um ácido sobre a sua pele.”
Nesse momento, Holmes endireitou-se em sua cadeira, demonstrando uma grande excitação. “Eu acho que conheço esse homem”, disse. “Ele não tem as orelhas furadas, a fim de poder usar brincos?”
“Sim, é verdade, ele tem.”
“Muito bem”, disse Holmes. “Ele ainda trabalha para o senhor?”
“Sim, e ele continua desempenhando as suas funções perfeitamente”, disse Wilson.
“Isso já é o bastante, Sr. Wilson”, disse Holmes. “Eu terei grande satisfação em dar um parecer ao senhor daqui a um ou dois dias — provavelmente na segunda-feira próxima. Despeço-me aqui do senhor. Até lá, e passe bem!”
[VI]
Depois que o Sr. Wilson havia partido, Holmes me perguntou: “Bem, meu caro Watson, o que você pensa de tudo isso?”
“Não consigo compreender essa história”, respondi. “É com certeza um caso muito misterioso.”
“Em regra7, os casos misteriosos são normalmente os fáceis de serem
resolvidos. Os casos que parecem simples são freqüentemente os mais
difíceis.”
“E o que você está pensando em fazer, então?”, perguntei.
“Francamente, estou pensando em fumar. Vou fazer isso durante cerca de uma hora, enquanto reflito sobre esse caso.”
Holmes sentou-se recolhidamente em sua cadeira e acendeu seu cachimbo.
Curvado sobre si mesmo, de olhos fechados, seus joelhos chegavam perto
de seu nariz, curvo como o de uma águia. Deixei-o então sozinho por
algum tempo, até que, de repente, ele levantou-se num sobressalto e,
decidido, me disse:
“Venha comigo, Watson. Há um grande violinista, Sarasate, que se
apresenta esta noite na cidade, no Teatro Saint James. Reparei que há
muita música alemã no programa, que é mais do meu gosto do que a
italiana ou a francesa. Tenho certeza de que você poderá, durante
algumas horas, se esquecer um pouco de seus pacientes, não é mesmo?”
“Não há problema. Tenho poucas coisas a fazer hoje”, disse.
“Então vista seu chapéu, seu casaco, e me acompanhe.
Primeiro,
vamos fazer o caminho da Praça Coburg, onde nosso amigo Wilson tem sua
casa de penhores. Eu quero dar uma passada de olhos em toda a vizinhança
do Sr. Wilson.”
Fomos então pelo metrô até Aldersgate. A partir daí, caminhamos para a
Praça Coburg, onde logo avistamos a loja de Wilson. Ela ocupava um dos
muitos sobrados do local, todos dando logo a impressão de serem
malconservados e sujos. Sherlock Holmes parou à frente da loja e a
examinou inteira, cuidadosamente. A seguir ele caminhou lentamente pela
rua, remontando até a esquina e examinando todas as casas vizinhas.
Então ele retornou à loja de Wilson e bateu com sua bengala na calçada,
por três vezes. Por fim, ele encaminhou-se subitamente à entrada da loja
e bateu à porta. Imediatamente ela foi aberta por um jovem bem
barbeado, de olhar aceso e esperto, que o convidou a entrar.
‘“Muito obrigado’, disse Holmes, ‘eu apenas gostaria de lhe perguntar como faço para ir daqui ao teatro Strand.”’
“É simples: caminhe três quarteirões e vire à direita, depois caminhe
mais quatro e vire à esquerda”, respondeu prontamente o jovem, e fechou a
seguir a porta.
‘“Rapaz muitíssimo vivo, esse’, disse-me Holmes, enquanto partíamos
caminhando. ‘Ele é, na minha opinião, um dos quatro homens mais espertos
que há em toda a cidade de Londres — e pela sua ousadia talvez mereça
até o terceiro lugar. Eu já soube, antes, algumas coisas dele.’”
‘“Aparentemente, o Sr. Vincent Spaulding tem um importante papel nesse
mistério da Sociedade dos Ruivos’, eu disse. ‘Suponho que você tenha
batido à porta da loja a fim de poder conhecê-lo, não?’”
“Não quis ver a ele, propriamente.”
“Então o que você quis ver?”
“Os joelhos das calças dele.”
“Como assim? O que você viu neles?”
“Exatamente aquilo que eu esperava ver.”
“E por que bateu com sua bengala sobre a calçada?”
“Meu caro Dr. Watson, agora é hora de observar, não de conversar. Note
que nós estamos em território inimigo, e que precisamos ser cuidadosos.
Vamos dar apenas mais uma olhada nas redondezas.”
Dobramos a esquina e chegamos a uma rua muito
movimentada,
que contrastava inteiramente com a rua em que se situava a loja do Sr.
Wilson. Havia muito tráfego e um fluxo constante de pessoas que passavam
apressadas por ela.
“Deixe-me ver bem isso”, disse Holmes, ficando de pé na esquina,
parado, e examinando toda aquela rua. “Gostaria de me lembrar mais tarde
da exata ordem dos edifícios desta rua. Sabe, é um passatempo meu
adquirir um conhecimento exato das ruas de Londres. Bem, em primeiro
lugar há ali uma tabacaria, e depois a pequena loja de jornais, e a
seguir o Banco da Cidade, o restaurante vegetariano, etc. Muito bem,
acho que fizemos bastante bem nosso trabalho, e eu vi exatamente aquilo
que esperava ver. Portanto, está na hora de comermos um lanche e tomar
um café, e a seguir ir ouvir aquele violinista de que lhe falei. Na
terra dos violinos, tudo é doçura, delicadeza e harmonia, e nela não há
clientes de cabelos ruivos para nos aborrecer com as suas bobagens.”
[VII]
Sherlock Holmes era verdadeiramente um grande amante de música, e ele
próprio sabia tocar bem o violino. Era compositor também, e de mérito
superior ao de um compositor comum. Durante toda aquela tarde, ele
sentou-se numa poltrona das primeiras fileiras do teatro; percebia-se
então que, acompanhando com seus dedos os compassos da música, estava
plenamente feliz. Nesses momentos, ele não se parecia de modo algum ao
Holmes caçador, astuto, implacável detetive criminalista que era. Diante
da música, ele assumia ares lânguidos10 e sonhadores. Em sua
personalidade, uma dupla natureza se alternava, e eu percebia que a
extrema perspicácia e exatidão de seu raciocínio representavam uma
reação contra a disposição poética e contemplativa que, de tempos em
tempos, nela predominava. Assim, eu sabia que aquela postura de meu
amigo não duraria muito tempo e que em breve ele mudaria novamente. Na
verdade, depois de um tal período de repouso e de ausência de atividade,
ele estaria revigorado e até mais pronto para lançar-se ao trabalho que
tinha de fazer. “Não há dúvida, Doutor Watson, de que você está
querendo ir
para a sua casa”, ele disse ao sairmos do teatro.
“É verdade, eu gostaria de ir para casa”, respondi.
“Eu, da minha parte, tenho alguns afazeres que me vão tomar algumas
horas. Ouça, esse caso da Praça Coburg é muito sério. Alguém planejou um
crime tremendo. Acredito que ainda teremos tempo de impedir que ele
aconteça. Ocorre que hoje é sábado, e isso na verdade vai complicar
ainda mais as coisas. Eu vou precisar do seu auxílio esta noite,
Watson.”
“A que horas nos encontramos?”, perguntei-lhe prontamente.
“Às dez horas está bem. Acredito que teremos então tempo suficiente.”
“Está acertado. Estarei no seu apartamento às dez.”
“Muito bem. Devo dizer também, Doutor, que talvez haja um certo perigo
no que vamos fazer. Não se esqueça, portanto, de trazer consigo seu
revólver.” E então Holmes sorriu, virou-se e foi embora, desaparecendo
rapidamente na multidão.
Bem, espero não ser menos inteligente que os meus semelhantes, mas devo
dizer que, sempre que trabalhava com Sherlock Holmes, sentia-me
oprimido pela consciência de minha própria estupidez. Sentia-me, de
fato, muito inferior a ele. Eu ouvira o mesmo que ele havia ouvido, vira
exatamente o mesmo que ele havia visto e, mesmo assim, suas palavras
tornavam evidente que não apenas ele já sabia o que se havia passado,
como também aquilo que estava prestes a acontecer. E, para mim, todo o
caso continuava ainda muito obscuro. Enquanto fazia o caminho de casa,
refleti sobre toda a história do Sr. Wilson, repassando-a do início ao
fim, mas não consegui depreender o sentido que ela guardava. Afinal,
aonde é que iríamos naquela mesma noite, e por que é que eu precisava
levar comigo meu revólver? Em meio a minhas muitas dúvidas, a única
impressão que permanecia clara era a de que o ajudante do Sr. Wilson era
uma pessoa temível, capaz de tudo, e essa impressão também me vinha,
afinal, da maneira como Holmes se referia a ele.
Já passava das nove horas quando saí de casa, atravessei o parque e
segui pela Rua Oxford até chegar ao apartamento de Holmes. Já no
corredor, ouvi vozes vindo de cima, e, ao entrar no quarto de Holmes,
encontrei-o numa conversa animada com dois homens. Um deles, reconheci-o
como sendo Peter Jones, o inspetor oficial da polícia. O outro, que eu
desconhecia, era um homem de rosto magro e triste, que portava um chapéu
negro e estava metido numa respeitável sobrecasaca.
“Bem, nosso grupo parece estar completo”, disse Holmes, vestindo
imediatamente seu casaco e seu chapéu. “Watson, creio que você já
conhece o Sr. Jones, da Scotland Yard. Permita que eu lhe apresente
agora o Sr. Merryweather, que vai nos acompanhar na aventura desta
noite.”
“Eu espero que a nossa aventura não se revele, ao final de contas, uma
aventura insana”, disse o Sr. Merryweather, com uma certa descrença.
“O senhor pode confiar muito no Sr. Holmes”, disse ao Sr. Merryweather o
agente da polícia, Peter Jones. “Sherlock Holmes tem seus próprios
métodos de trabalho, que são na minha opinião um pouco teóricos e às
vezes fantásticos demais. Mas ele é um excelente detetive e sei que não
vai decepcioná-lo. Sei também que ele não vai se importar com o fato de
eu exprimir, deste modo, minha opinião sobre o seu trabalho.”
“Ora, se o senhor diz essas coisas, Sr. Jones, está tudo perfeito”,
disse o Sr. Merryweather. “O que lamento é que hoje é sábado, e esta é a
primeira noite de um sábado em que, em vinte e sete anos, deixo de
jogar cartas habitualmente com meus amigos”.
[VIII]
Sherlock Holmes não perdeu a oportunidade de comentar com humor o que
dissera num tom de lamento o Sr. Merryweather: “Eu acho que o senhor
haverá de jogar esta noite um jogo muito mais interessante do que o seu
carteado14 habitual”, disse. “O senhor vai ganhar neste jogo uma quantia
de dinheiro muito maior, Sr. Merryweather. E você, Jones, vai
finalmente capturar o homem que está procurando há tanto tempo.”
“Sim, John Clay, o grande ladrão, falsário e assassino!”, disse Jones.
“Ele é bastante jovem, Sr. Merryweather, mas é o homem mais astuto em
sua profissão. Ele é, sem dúvida alguma, um homem excepcional! O seu avô
era um nobre, um duque da Casa Real, e o neto estudou na Universidade
de Oxford! A sua mente é tão ágil quanto os seus dedos, e, apesar de eu
ter encontrado muitos sinais de seus crimes, nunca fui capaz de pôr
minhas mãos nele. Há anos que o persigo, mas nunca o vi.”
“Espero que eu tenha o prazer de apresentá-lo esta noite a você,
Jones”, disse Holmes. “Bem, agora já passa das dez, e é preciso que
comecemos nosso trabalho. Proponho que façamos o seguinte: vocês dois
apanham o primeiro tílburi, e eu e Watson os seguimos no segundo,
certo?”
O percurso foi longo, e durante a viagem Holmes não falou muito.
Explicou-me, porém, que o Sr. Merryweather era diretor do Banco da
Cidade e que, portanto, estava muitíssimo interessado na aventura
daquela noite. Disse-me também que havia chamado Jones porque julgou que
seria melhor ter a companhia de um agente da Scotland Yard. Holmes
considerava o agente policial, entretanto, um completo imbecil em sua
profissão.
Finalmente, chegamos a uma rua movimentada, a mesma que havíamos
visitado pela manhã. Despachamos os nossos tílburis e fomos então
diretamente para a frente do Banco da Cidade. Seguindo o Sr.
Merryweather, passamos por um corredor estreito e por uma porta lateral,
que ele nos abriu com suas próprias chaves, e entramos no edifício.
Passamos por outro corredor que terminava numa enorme porta de ferro,
que também nos foi aberta pelo Sr. Merryweather. O diretor do Banco
acendeu uma lanterna e então nos conduziu por outra passagem, escura e
úmida; depois de abrir uma última porta, entramos num porão fundo, todo
feito de pedras, onde havia muitos caixões empilhados uns sobre os
outros.
“O senhor está seguramente protegido de qualquer ladrão que tente chegar aqui vindo de cima”, disse Holmes.
“E também de baixo”, disse o Sr. Merryweather, batendo fortemente com sua bengala sobre o chão de pedra a seus pés.
“Pelos céus, o chão soa como se nenhuma terra houvesse embaixo dele!”
“Eu devo de fato pedir ao senhor que fale mais baixo”, disse Holmes de
um modo severo. “O senhor quase pôs a perder todo o nosso plano com sua
atitude. Eu lhe peço que se controle e que se sente sobre um desses
caixões. Espere pacientemente, sim?”
O Sr. Merryweather obedeceu ao pedido, e Holmes agachouse e começou a
examinar com sua lupa, cuidadosamente, as pedras do solo. Não se demorou
nisso e, logo a seguir, ergueu-se novamente e guardou a lupa em seu
bolso.
“Vamos ter de esperar pelo menos uma hora”, ele disse, “pois eles
provavelmente não tentarão fazer nada antes que o Sr. Wilson vá dormir.
Mas, uma vez que ele tenha ido para o seu quarto, eles não perderão mais
nenhum minuto, isso porque, se eles agirem rápido, terão
conseqüentemente mais tempo para escapar. É claro que você percebe, Dr.
Watson, que estamos na parte subterrânea do grande Banco da Cidade de
Londres. O Sr. Merryweather pode explicar bem a você por que razão os
ladrões de Londres estão todos interessadíssimos em entrar, no momento,
neste porão.”
“É por causa do ouro francês que está guardado aqui”, disse Merryweather.
“Ouro francês?”, perguntei.
“Sim. Tivemos a oportunidade, há dois meses, de fortalecer os recursos
de nosso Banco, e fizemos, com esse objetivo, um empréstimo de 30.000
napoleões do Banco da França. O dinheiro ainda está guardado nestes
mesmos caixões sobre os quais estamos sentados. Nossas reservas de
dinheiro são atualmente muito maiores do que as que costumamos guardar”,
disse Merryweather.
“Está na hora de prepararmos nossos planos”, disse Holmes.
“Creio que dentro de uma hora teremos um pouco de ação por aqui.
Precisamos apagar as luzes e permanecer no escuro, em silêncio, bem
escondidos detrás dessas caixas. Quando eles chegarem, aguardem que eu
tome a iniciativa, entendido? Se for preciso, vou ofuscar os olhos deles
com a luz, e saltaremos todos então rapidamente sobre eles. Se eles
atirarem, não tenha nenhum receio de abatê-los, Watson, e use
imediatamente o seu revólver.”
[IX]
Todos obedeceram às instruções de Holmes e se esconderam detrás das
grandes caixas. As luzes foram apagadas, fez-se completamente a
escuridão e houve, a partir daí, um sentimento de grande tensão e
ansiedade entre todos nós. Eu, da minha parte, apoiei meu revólver sobre
a tampa de um caixão, e permaneci de pé esperando em silêncio.
“Só há uma maneira de eles escaparem daqui”, disse Holmes.
“Voltando pelo túnel para a loja do Sr. Wilson. Espero que você tenha feito o que lhe pedi, Jones.”
“Não se preocupe, Holmes, eu enviei um inspetor e dois policiais para
ficarem de prontidão18 à porta da loja do Sr. Wilson”, respondeu Jones.
Holmes, com uma expressão mais tranqüila, disse: “Então conseguimos
bloquear todas as saídas. Devemos, agora, ficar em absoluto silêncio e
esperar.”
O tempo dava-me, então, a impressão de passar cada vez mais devagar.
Embora não houvesse transcorrido, desde que apagamos as luzes, muito
mais do que uma hora, eu já me sentia como se a noite inteira tivesse
passado, e como se em breve a luz do sol viesse de novo nos despertar e
cobrir a cidade. Sentia minhas pernas extremamente cansadas, e, para
agravar meu desconforto, tinha receio de mudar a posição de meu corpo e,
com isso, produzir algum ruído que pusesse toda a estratégia de Holmes a
perder. Então, subitamente, vi um pequeno fio de luz se projetar no
solo do porão. No início, era muito fraco e pequeno, mas logoganhou
intensidade e se estendeu pelo chão. A luz vinha de um dos lados de uma
das pedras que compunham o piso, e todos olhávamos para ela com os olhos
fixos e a respiração presa. Nos primeiros momentos que se seguiram, foi
como se tudo parasse; de repente, ouvimos um som alto e ruidoso: uma
das pedras do piso havia sido erguida e removida para um dos lados.
Víamos agora uma luz forte que saía do buraco aberto no piso do porão.
Logo a seguir, a cabeça de um homem aparecia, saindo daquele buraco do
piso: era um jovem. Todos nós nos controlávamos aguardando a ação de
Holmes. Com esforço, o jovem pôs suas mãos nas bordas do buraco, e com
agilidade, firmando-se no solo, conseguiu erguer todo seu corpo para
fora do buraco. Num gesto rápido, ele se pôs de pé e olhou ao redor, sem
que nos conseguisse ver, e ficou por um momento ao lado do buraco de
onde saíra. Então agachou-se, inclinou se e, com seus braços, ajudou
outro homem a subir e sair para fora daquele buraco. Esse segundo homem
tinha os cabelos ruivos e brilhantes como os do Sr. Wilson.
“Pode vir, está tudo calmo. Você tem com você os sacos e as
ferramentas?”, sussurrava ainda o primeiro homem, quando Holmes saltou
sobre ele, pegando-o pela gola. “Pelos céus! Depressa, Archie, fuja!”,
foi a reação que ele teve, gritando. O segundo homem atirou-se de volta
ao buraco, antes que Jones pusesse as mãos nele. O primeiro homem tinha
ainda um revólver nas mãos, mas Holmes desarmou-o imediatamente,
atirando a arma ao chão com um gesto ágil de sua bengala.
“Não adianta, John Clay”, disse Holmes, controlando a situação. “Você não tem nenhuma chance de escapar.”
“É, estou percebendo isso”, respondeu friamente o outro, “mas acho que,
por outro lado, meu companheiro já conseguiu fugir neste momento.”
“Você pode ficar tranquilo quanto a ele”, disse Holmes, “há três
homens da polícia que o esperam à porta da casa do Sr.
Wilson.”
“Não diga! Vejo que você preparou tudo muito bem. Devo dar-lhe os meus parabéns.”
“Eu o cumprimento também”, disse Holmes. “Sua idéia da Sociedade dos Ruivos foi muito criativa e inteligente.”
“Realmente,
Sr. Holmes”, disse o Sr. Merryweather, “não sei como o Banco pode
recompensá-lo. Está provado que o senhor descobriu e derrotou dois
criminosos perigosíssimos, evitando um roubo que com certeza
estaria entre os mais audaciosos já praticados em Londres. O
senhor nos poupou de uma grande perda.”
“Para mim, foi acima de tudo um prazer capturar John Clay”, disse Holmes. “
“Você
vê, meu caro Watson”, dizia-me Sherlock Holmes na manhã seguinte,
quando tomávamos um copo de uísque em seu apartamento da Rua
Baker, “estava claro, desde o início, que essa história de copiar
verbetes da Enciclopédia Britânica tinha, como único objetivo,
afastar o Sr. Wilson de sua loja durante algumas horas todos os
dias.
‘“A
primeira coisa que despertou minha suspeita’, prosseguiu, foi o fato
de o empregado do Sr. Wilson ter aceitado trabalhar recebendo
apenas a metade do salário a que teria direito. Estava claro
assim que ele deveria ter uma razão muito forte para querer ficar
nesse emprego, sobretudo sendo ele, como reconhecia o próprio
Sr. Wilson, uma pessoa muito capacitada e que poderia trabalhar
em outro local.’”
“Mas como pôde você deduzir qual era a motivação do ajudante do Sr. Wilson?”, perguntei.
“Se
houvesse mulheres na mesma casa, eu logo suspeitaria de uma razão
vulgar para o desejo do empregado de permanecer ali.
O que poderia ser?
“Já tinha chegado a essa conclusão quando fomos visitar a loja do Sr. Wilson.
Quando
toquei a campainha da loja e conversei com o empregado, o que me
interessava não era vê-lo pessoalmente, mas sim ver as marcas de
sujeira nos joelhos de suas calças, marcas que comprovavam que
eles estavam sempre ajoelhados escavando um túnel no porão da casa.
“Sim, mas diga-me: como você adivinhou que os ladrões iam tentar assaltar o Banco ontem à noite?”, perguntei-lhe.
“Bem,
quando eles deram fim ao escritório da Sociedade dos Ruivos, isso
significava que eles não precisavam mais afastar o Sr. Wilson de sua
loja.
“Você compreendeu tudo magnificamente!, exclamei com admiração.
“Esses pequenos problemas sempre me interessaram, e no fundo são bastante elementares.
E ele, dando de ombros, respondeu: “Bem, afinal de contas, talvez isso tenha alguma utilidade.”
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Resumo do Conto
O
conto A Sociedade dos Ruivos relata a história de uma Sociedade onde os
membros deveriam ter mais de vinte e um anos e obrigatoriamente serem
ruivos, eles trabalhavam por pouco tempo e ganhavam 4 pounds por semana,
e logo após Sr. Wilson entrar na Sociedade, ela foi fechada, sem motivo
algum. Sr. Wilson então, decide contratar um detetive chamado Sherlock
Holmes para saber o porquê de a Sociedade ter sido fechada secretamente.
Depois de muita investigação Sherlock Holmes descobriu que Ducan Ross
havia enganado Sr. Wilson, o mesmo fez Wilson trabalhar apenas para
disfarçar e ocultar o túnel que teria acesso ao banco da cidade.
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